sentido do modernismo
O termo Modernismo – e tudo aquilo que ele significa – não pode ser abordado numa perspectiva exclusivamente nacional. Devemos então considerá-lo sob dois ângulos:
1) É um grande movimento internacional, a exemplo do Renascimento, que surge mais ou menos simultaneamente, em vários países europeus, traduzindo de maneira rica, complexa e contraditória os efeitos da modernização sobre a vida sócio-cultural, sobre o comportamento e sobre a psicologia individual. (Entende-se por modernização o processo deflagrado sobremodo a partir da II Revolução Industrial e que gerou fenômenos de urbanização, industrialização crescente, ampliação de serviços, escolarização, valorização do ócio e do lazer e notáveis mudanças nas esferas científicas, tecnológicas e ideológicas. )O Modernismo apresenta múltiplos aspectos temáticos, revoluções formais de toda a ordem e visões de mundo renovadoras. Na verdade, mais do que uma profunda revolução artística, ele expressa uma nova forma do homem ocidental ver, sentir e interpretar a existência.Portanto, o espírito moderno é o produto das novas e ambíguas experiências que o ser humano passa a vivenciar na cidade. Por um lado, estas metrópoles oferecem ao indivíduo infinitas possibilidades de realização pessoal, educacional, amorosa, econômica, etc. Por outro lado, desencadeiam sensações de desconforto, de mal-estar, de solidão e de desespero existencial. Os referidos paradoxos constituem a noção básica da modernidade.O processo histórico que gerou o Modernismo teve uma duração de cerca de cinqüenta anos*, começando ainda no século XIX. Contudo, a efetiva manifestação de novas concepções de vida e de arte deu-se nas três primeiras décadas do século XX, quando se verificou um impressionante confronto entre o novo e tudo aquilo que representava a tradição, isto é, as formas culturais e ideológicas do passado. Esta revolução, comandada por artistas, alcançou todos os setores criativos, recebendo o nome global de Arte Moderna. Sua expansão foi imediata atingindo um incontável número de países extra-europeus, entre os quais o Brasil.
2) É a designação de um movimento específico feito por jovens paulistas, especialmente entre os anos de 1922 a 1930. O termo “modernismo” – auto-aplicado pelos integrantes do grupo – indica tanto a adoção de inovações estéticas, originadas no contexto europeu**, quanto o combate ao passado artístico (e mental) do país. Como todo o movimento vanguardista, o Modernismo paulista revoluciona as estruturas tradicionais da arte brasileira, mas se esgota rapidamente. Ou seja, tem muita importância e curta duração Em 1930 o seu radicalismo formal já havia sido – em maior ou menor escala – assimilado ou até negado pelos novos autores que então surgiam.
Sob este ângulo não se justificam classificações como a de “Segunda Fase Modernista” para abranger autores tão diversificados como Graciliano Ramos, Jorge Amado ou Vinícus de Moraes, que nada ou quase nada tem a ver com os princípios de 1922, apenas para citar alguns exemplos.
Os professores, especialmente devem evitar neste Curso a confusão entre o Modernismo (nova concepção de arte e de mundo dominante no Ocidente durante a maior parte do século XX) e Modernismo paulista (movimento específico de vanguarda brasileira, cuja ação real dura apenas uma década).
*Algumas obras e acontecimentos, ainda no século XIX, constituem uma espécie de Pré-Modernismo europeu, anunciando uma nova sensibilidade. Livros como Flores do mal (1857), de Baudelaire; Madame Bovary (1857), de Flaubert; Crime e castigo (1866), de Dostoievski; Germinal (1885), de Zola; criações músicais como Tristão e Isolda (1859), de Wagner; pinturas como Olímpia (1864), de Manet; inovações tecnológicas como ao a invenção do cinema pelos irmãos Lumière, em 1895, ou ainda a publicação da primeira obra de Freud, Interpretação dos sonhos, em 1899, registram o começo da experiência moderna, sugerindo a ousadia formal, o desespero artístico, o tema da “vida gris”, o desencanto com a própria cultura, etc., que seriam depois elementos básicos da arte e do pensamento no século XX.
**Há um fator de dependência em relação ás vanguardas européias, mas não devemos superstimar esta dependência porque muitas vezes os modernistas brasileiros e de outros quadrantes (países hispano-americanos e asiáticos) usaram as inovações vanguardistas para negar a própria Europa.
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