sexta-feira, novembro 30, 2007

Blue Man Group -Las Vegas


Blue Man Group (Blue Man, BMG) é uma organização criativa estadunidense fundada por Phil Stanton, Chris Wink e Matt Goldman nos anos 80.
Suas apresentações são focadas em um trio de
atores mudos, chamados Blue Men, que se apresentam com os rostos pintados de azul e cabeças cobertas por toucas de látex similares às usadas por nadadores, além de luvas também azuis, e roupas de cor preta.

As apresentações do Blue Man Group incorporam rock, com ênfase em percussão, participação do público, iluminação sofisticada, e grandes quantidades de papel. Também é conhecida por haver uma "seção poncho" na platéia: nas primeiras fileiras, membros da platéia são equipados com ponchos de plástico para protegê-los de várias substâncias que são jogadas, ejetadas ou pulverizadas do palco, como comida, tintas etc.

As apresentações tem temas familiares,
humorísticos, energéticos e freqüentemente satirizam a vida moderna. Muito do humor quebra a quarta parede, como ao interromperem a apresentação para ridicularizar os que chegam atrasados, por exemplo.

Existem grupos de BMG nas cidades de Nova Iorque, Boston, Chicago, Las Vegas, Berlim, Londres, Amsterdam, Oberhausen e Orlando.

Zumanity - Cirque du Soleil

ZUMANITY, the Sensual Side of Cirque du Soleil, is a seductive twist on reality, making the provocative playful and the forbidden electrifying! Leave all inhibitions at the door and let loose as this adult-themed production takes you on a sexy thrill ride full of sensational acrobatics and naughty fun. Part burlesque and part cabaret, ZUMANITY is one full night you'll never forget! ZUMANITY was created for adults 18 and over. Only at New York-New York Hotel and Casino, Las Vegas.

Mystére - Cirque du Soleil


Mystère is classic Cirque du Soleil, combining the powerful athleticism, high-energy acrobatics and inspiring imagery that has become the company's hallmark. Deemed a theatrical "flower in the desert," Mystère thrills generations of audiences with its exhilarating blend of whimsy, drama and the unimaginable brought to life on stage. Presented exclusively at Treasure Island, Mystère provides the ultimate discovery that life itself is a mystery.

Love - Cirque du Soleil



LOVE is the latest Cirque du Soleil production which celebrates the musical legacy of The Beatles. Drawn from the poetry of the lyrics, LOVE explores the content of the songs in a series of scenes inhabited by real and imaginary people. The international cast of 60 channels a raw, youthful energy underscored by aerial performance, extreme sports and urban, freestyle dance.


I watched this show in Las Vegas. It was one of my favorites. It is gorgeous and amazing. The soundtrack is just perfect.

domingo, julho 08, 2007

In the American West: Photographs by Richard Avedon


Stanford, California — The Cantor Arts Center at Stanford University announces the presentation of In the American West: Photographs by Richard Avedon, February 14–May 6, 2007. The Amon Carter Museum, Fort Worth, Texas, originally presented the exhibition in 1985, then again put a major portion of the original works on view September 2005 in a 21st-century reprise of the original show. In 2006, the 20th-anniversary exhibition goes on a national tour, which ends at the Cantor Arts Center.

“No one who saw the original exhibition 'In the American West' in 1985 could forget the impact and beauty of Avedon’s colossal images. The Cantor Arts Center is thrilled to show this ground-breaking project to a new generation of museum-goers who will be amazed and inspired by the medium in the hands of the great master," said Hilarie Faberman, the Center's Robert M. & Ruth L. Halperin Curator of Modern and Contemporary Art.

Richard Avedon was already world famous for elevating fashion photography to an art form and for his insightful portraits of men and women of accomplishment, when the Amon Carter Museum’s first director, Mitchell A. Wilder, saw Avedon’s 1978 portrait of a Montana ranch foreman. Wilder asked the artist to make portraits of others across the American West under the sponsorship of the Amon Carter Museum. From 1979 to 1984, Avedon traveled through 13 states and 189 towns from Texas to Idaho, exposing 17,000 sheets of film through his 8-by-10-inch Deardorff view camera.

Focusing on the rural West, Avedon visited ranches and rodeos, but he also went to truck stops, oil fields, and slaughterhouses. Rather than playing to the western myths of grandeur and space, he sought out people whose appearance and life circumstances were the antithesis of mythical images of the ruggedly handsome cowboy, dashing outdoor adventurer, or beautiful pioneer wife. The subjects he chose for the portraits were ordinary people, coping daily with personal cycles of boom and bust.

Instead of glamorizing these figures, he brought their various human frailties to the forefront. All his subjects are pictured against a seamless white backdrop that removes any reference to place, and many of the portraits are dramatically oversized, shocking in their stark detail. Visitors to the exhibition come face-to-face with images that shattered stereotypes of a glorified region.

A majority of the photographs have not been seen in the United States since the initial tour. Sixty three of the original 124 portraits will be on view in this exhibition, including all of the project’s most important and best-known images. Amon Carter Museum Senior Curator of Photographs John Rohrbach began working with Avedon in early 2003 on image selection and installation design. Following Avedon’s death in late 2004, Rohrbach continued to work on the exhibition with The Richard Avedon Foundation.

The New York publisher Harry N. Abrams, Inc., reissued the exhibition catalogue with a new introductory preface by Rohrbach. The catalogue, with 174 pages and 120 reproductions is available in the Cantor Arts Center Bookshop for $35 soft cover and $75 hard cover.

In the American West is organized by the Amon Carter Museum, Fort Worth, Texas. Generous funding for the exhibition is provided by the Katrine M. Deakins and Crystelle Waggoner Charitable Trusts, Bank of America. Presentation at the Cantor Arts Center is made possible by The Cowles Charitable Trust, Gilbert Ellenberger, an anonymous donor, and Cantor Arts Center members. 







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Sinto morrer aquela Marina. Aquela menina noturna, embebedada de sereno e noites frescas. Ouço músicas do passado e só me remeto a esse passado, vindo-me tão somente a sensação de noites. Eu era feliz nas noites. Nas noites eu via estrelas, claro. Via amigos, quase que com frequência. As noites alimentavam minhas paixões platônicas e me ensinavam o sabor da tristeza. Canso de me trancafiar entre quatro paredes e uma tela que não me levo aonde quero, porque onde quero já não está onde deveria. Tentei ver as coisas com o certo otimismo que me cobram, mas, infelizmente, o meu egoísmo de ser humano e minha imaturidade proposital me instalam nas fronteiras das dores e fatalidades. Medo de transbordar no novo que me surge. Atada, recorro a repetição, a qual é vaga.

quarta-feira, junho 06, 2007


Ficha Técnica
Título Original: The Hours
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 114 minutos
Ano de Lançamento (EUA): 2002
Site Oficial: www.thehoursmovie.com
Estúdio: Scott Rudin Productions
Distribuição: Paramount Pictures / Miramax Films / Buena Vista International / Lumière
Direção: Stephen Daldry
Roteiro: David Hare, baseado em livro de Michael Cunningham
Produção: Robert Fox e Scott Rudin
Música: Philip Glass
Fotografia: Seamus McGarvey
Desenho de Produção: Maria Djurkovic
Direção de Arte: Nick Palmer, Mark Raggett e Judy Rhee
Figurino: Ann Roth
Edição: Peter Boyle
Efeitos Especiais: Double Negative
Sinopse
Em três períodos diferentes vivem três mulheres ligadas ao livro "Mrs. Dalloway". Em 1923 vive Virginia Woolf (Nicole Kidman), autora do livro, que enfrenta uma crise de depressão e idéias de suicídio. Em 1949 vive Laura Brown (Julianne Moore), uma dona de casa grávida que mora em Los Angeles, planeja uma festa de aniversário para o marido e não consegue parar de ler o livro. Nos dias atuais vive Clarissa Vaughn (Meryl Streep), uma editora de livros que vive em Nova York e dá uma festa para Richard (Ed Harris), escritor que fora seu amante no passado e hoje está com Aids e morrendo.

sexta-feira, maio 11, 2007

Pomelo


Todas as estórias de Pomelo são surpreendentes. Um livro de criança para adultos... ou "pseudo-adultos"..
Pomelo é um elefante deselegante e desajeitado.. sua tromba cresceu demais...
Ele vive debaixo de sua flor Dente-de-Leão.
Identifico-me muito com esse elefantinho... temos medos parecidos...e, alegrias também.
Temos medo de que a chuva apague as cores, ou que de repente tudo vire-de-cabeça-para-baixo..ou pior, que acordamos um belo dia e não entendemos o que as pessoas estão falando, nem mesmo o nosso melhor amigo, no caso de Pomelo, a Gigi, um caramujo.
Mas de uma coisa discordo de Pomelo, as borboletas são sim confiávies.
** Um livro de Ramona Badescu e Benjamin Chaud

terça-feira, maio 08, 2007

domingo, maio 06, 2007

A arte de ser feliz - Cecília Meireles

Um dia como um dia. Mas sempre há um amigo a nos surpreender com textos as nos confortar. Obrigada Maressa

A arte de ser feliz - Cecília Meireles

Houve um tempo em que minha janela se abria sobre uma cidade que parecia ser feita de giz. Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco. Era uma época de estiagem, de terra esfarelada,e o jardim parecia morto. Mas todas as manhãs vinha um pobre com um balde, e, em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas. Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse. E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros e meu coração ficava completamente feliz. Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor. Outras vezes encontro nuvens espessas.Avisto crianças que vão para a escola. Pardais que pulam pelo muro. Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais. Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar. Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega. Ás vezes, um galo canta. Às vezes, um avião passa. Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino.E eu me sinto completamente feliz. Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem diante das minhas janelas, e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.

sábado, maio 05, 2007

Cara Laísa

Palo Alto, 04 de maio de 2007.
Cara Laísa,

Hoje, especialmente hoje, há uma distância maldita dentro de mim. Meu coração pretificou-se no frio californiano. A saudade não é uma dor desesperada; é, com destreza, um lamento. Uma perda decidida. A natureza que por si só é a representação da beleza continua assim. Não posso ignorar isso. Mas, a condição humana não me envergonha, como deveria, ou melhor, como se esperaria, porém me atira aos limites. Não! Estou longe de chegar ao cume, no entanto, pressinto um ar blasfêmico. Entendes?
O mundo, como diria Drummond, vasto mundo. Há rimas no mundo, Laísa? Há ritmo? Há poesia? Há, Afirmo-te, como quem classifica cada pedaço de uma vaca morta. Há poesia em tudo quando se tem poesia nos olhos. Nos olhos e não no coração. A do coração lapida ou empalidece a dos olhos. Todavia, a dos olhos pode encegar a do coração, ou no mínimo, se arriscar por caminhos tolos. Os olhos se perdem em ser perder.
Não saberás quando for tarde. Será assim: acordas e lá está o mundo, ora a te sorrir com comparações mesquinhas, ora a te arregaçar com beijos francos. No entanto, sempre há isso que se chamam de Eu, um Eu entre tudo. Um Eu ansioso. Isso de haver um Eu é o que estraga tudo. O mundo seria apenas Um mundo, se não houvesse o Eu. O plano era: eu e o mundo. O plano muda. O mundo e eu. Parece óbvio a descoberta da própria medíocridade, mas vou além disso. Além da consciência dessa pequeneza, acresça a fragilidade de tudo que possa caber dentro de paradoxos, quase sempre atenuados.

O pior se dá em ecos. E lá se vão sua língua, as borboletas e as cores.
Sigo, porque já me esqueci como se volta.

Carinho zeloso,
Marina Segatti

sexta-feira, abril 27, 2007

CONTARDO CALLIGARIS - Somos culpados, mas de quê?

CONTARDO CALLIGARIS
Somos culpados, mas de quê?

Pesquisa mostra que a culpa mais dolorosa é o lamento por não termos agido como queríamosA MELHOR polícia do mundo não conseguiria manter a ordem se respeitássemos as leis só por medo da punição. A sociedade funciona (mais ou menos) porque infrações e crimes despertam não só a PM e a PF mas também nossa consciência: a perspectiva do arrependimento nos inibe.O problema, como Freud constatou, é que a gente se culpa mais do que é necessário: enxergamos crimes onde não há, consideramos que nossas vagas intenções e nossos sonhos noturnos já são delitos e nos castigamos para aliviar os tormentos de nossa culpa. Seja como for, até os anos 60, o sentimento de culpa -necessário ou patológico e excessivo- parecia ser só isto: o arrependimento por ter desrespeitado uma norma ou uma autoridade. Em seu seminário (um pouco críptico) de 1959-60 ("A Ética da Psicanálise", Zahar), o psicanalista francês Jacques Lacan propôs algo diferente: a culpa mais relevante e mais sofrida surgiria não por termos desobedecido a uma norma, mas por termos neglicenciado nosso próprio desejo, por termos desistido de agir como queríamos. Podemos nos arrepender de nossas transgressões, mas lamentamos, mais amargamente, as ocasiões perdidas. Era uma pequena revolução no mundo da clínica. De fato, o sentimento de culpa é onipresente (ou quase), e as transgressões, em geral, são poucas. É lógico, portanto, que a culpa que nos atormenta seja sobretudo um efeito de nossa covardia (que é crônica), e não de nosso atrevimento (que é raro). Pois bem, no ano passado, Ran Kivetz e Anat Keinan publicaram uma pesquisa que confirma experimentalmente a intuição de Lacan (que, claro, eles não leram): "Repenting Hyperopia: an Analysis of Self-Control Regrets" (Hipermetropia Pesarosa: uma Análise dos Arrependimentos do Autocontrole, "Journal of Consumer Research", vol. 33, setembro 2006). Em três protocolos de pesquisa, Kivetz e Keinan confirmaram o seguinte: 1) todos condenamos as decisões que só enxergam o prazer imediato sem levar em conta as conseqüências futuras (desde comer a segunda fatia de bolo ou gastar dinheiro que não temos até cometer um pecado pelo qual responderemos na porta do purgatório); 2) mas essa condenação é fugitiva, efêmera: a longo prazo (depois de um ano, por exemplo), considerando a decisão que nos pareceu sábia (não comer a segunda fatia de bolo, não gastar, não pecar), o que prevalece é o arrependimento por ter perdido uma ocasião, por não ter agido segundo nosso impulso ou desejo. Na metáfora ótica usada por Kivetz e Keinan, sabemos que nossos impulsos são míopes (só enxergam a satisfação do momento) e achamos certo agir como hipermetropes (o que, em geral, significa deixar de agir, focalizando e receando as conseqüências afastadas de nossos atos); a curto prazo, nós nos felicitamos por ter pensado no futuro, enquanto, a longo prazo, lamentamos ter sido hipermetropes e desperdiçado satisfações que estavam ao nosso alcance imediato. Kivetz e Keinan sugerem uma explicação: a longo prazo, os atos passados são integrados numa espécie de balanço de nossa vida, em que devemos decidir se a corrida foi boa, se valeu a pena. Nesse balanço, o lamento pelas coisas que queríamos e não ousamos fazer pesaria mais que o mérito das "sábias" decisões que comandaram nossas desistências. De qualquer forma, o fato é que o arrependimento por não ter escutado o desejo parece falar mais alto e por mais tempo do que o arrependimento por ter ousado transgredir. Seria aventuroso concluir que, para não se arrepender no futuro, a gente deveria atuar qualquer desejo. Mas resta uma suspeita, ou melhor, uma lição: freqüentemente, as razões que mantêm nosso comportamento nos padrões esperados (obediência à ordem social, a nossos pais, à tradição etc.) são apenas racionalizações de uma covardia da qual nos arrependeremos um dia. Para entender plenamente o alcance da pesquisa, esqueça a segunda fatia de bolo, os gastos e os pecadilhos (exemplos triviais usados na experiência) e pense em decisões cruciais de sua vida: uma mudança de carreira à qual você renunciou porque teria desapontado ou preocupado seus próximos, uma paixão amorosa que você calou porque teria encontrado a desaprovação dos mesmos. Pois bem, a longo prazo, essas desistências doem mais do que doeria a culpa por ter transgredido normas e expectativas, seguindo nosso desejo.

CONTARDO CALLIGARIS - Sobre o atirador de Virginia Tech

CONTARDO CALLIGARIS
Sobre o atirador de Virginia Tech

A procura de explicação revela mais sobre nós do que sobre o objeto de nossas investigações1) SOU uma pessoa razoavelmente sociável. Dispenso e retribuo sorrisos e banalidades ("Oi", "Tudo bem?") nos elevadores, nos vestíbulos e mesmo na rua.Mas há pessoas para quem o exercício dessa socialidade "básica" é forçado ou intoleravelmente hipócrita. Para um amigo monge beneditino, o uso da linguagem é permitido só quando a gente tem algo a dizer que seja crucial para o destino da alma: o silêncio lhe parece quase sempre mais próximo da verdade do que a falação (sobre a virtude do silêncio, aliás, acaba de sair "Silêncio e Contemplação - Uma Introdução a Plotino", de Gabriela Bal).Pois bem, desde o massacre de Virginia Tech, leio e escuto que o atirador era taciturno e silencioso, não devolvia saudações nem olhares. Conclui-se que ele era uma pessoa "anti-social".É normal: quando acontece um horror, dormimos melhor com uma explicação. Mas, freqüentemente, a procura das explicações revela mais sobre nós mesmos do que sobre o objeto de nossa investigação. No caso, a explicação pelo caráter taciturno do atirador revela sobretudo que somos tão preocupados com nossa agressividade que preferimos afogá-la num rio de palavras vazias. Quem se cala nos perturba porque seu silêncio evoca tudo o que nós mesmos tentamos esconder atrás de nossa barulhenta "cordialidade" (inquietudes, medos, raivas, lubricidade etc.).Ora, quando a "sociabilidade" é um jogo obrigatório, quem não joga está fora, é um excluído. E, numa sociedade que valoriza a inclusão, econômica ou convivial, a exclusão é sempre explosiva.2) Alguns comentadores entenderam que o atirador produziu e tornou público um vídeo para tornar-se uma "celebrity" após a morte. Por isso, segundo eles, as imagens não deveriam ser mostradas pela televisão. De novo, a "explicação" é uma projeção de nossa própria paixão pelos "cinco minutos de fama": atribuímos ao atirador uma vontade da qual nos envergonhamos.De fato, ele me pareceu sobretudo preocupado em declarar que se orgulhava de seu ato. Mais um desaforo? Não sei: nas culturas orientais (veja-se o clássico de Ruth Benedict, "O Crisântemo e a Espada", Perspectiva), a vergonha é o grande regulador social; e o melhor remédio contra a vergonha é o orgulho.3) O atirador evocou o "exemplo" de Cristo. Loucura? Em termos. Max Weber (em "A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo", Companhia das Letras ou Martin Claret) mostrou que o sucesso econômico do protestantismo (nos EUA, por exemplo) se deveu à idéia de que os predestinados à salvação eterna seriam também os eleitos na vida terrena: o sucesso é bom e demonstra que Deus nos ama.Essa idéia estimula o crescimento, mas gera inevitavelmente, no "perdedor", o anseio de uma revanche já neste mundo, uma revanche para provar que a graça divina não o esqueceu.4) Em 1996, eu ensinava a patologia das migrações na Universidade da Califórnia em Berkeley. A chegada de um estudante coreano ou chinês no departamento de antropologia era uma raridade. Em geral, os imigrantes orientais não falam nem aprendem inglês, o que torna problemática, para seus filhos, a escolha de uma disciplina humanística; as carreiras científicas são o caminho mais rápido de integração.O atirador de Virginia Tech (cujos pais não falam inglês) estava estudando literatura inglesa. O conflito entre sua origem e sua vontade de se integrar devia ser dramaticamente agudo.5) A primeira reação, nos EUA, foi o protesto contra a facilidade de adquirir armas. Mas, para o lobby das armas, o evento prova o contrário: se cada aluno pudesse carregar sua arma (com a naturalidade com a qual a gente carrega um celular), um atirador mataria só um ou dois, antes de cair numa chuva de balas.6) Mais importante: naquela manhã fria, um professor, Liviu Librescu, 76 anos, judeu de origem romena, sobrevivente do genocídio, não hesitou em dar a vida para impedir que o assassino entrasse na sala de aula. Com isso, ele permitiu que vários estudantes se salvassem. Somos fascinados pelas "razões" que levam alguém a cometer um horror. Por exemplo, há estantes de livros tentando entender por que alemães comuns se tornaram, durante o nazismo, assassinos. Seríamos justos com nossa espécie se, às vezes, colocássemos a pergunta inversa: como é possível que, no horror, quase sempre haja alguém que faz a coisa certa?

quinta-feira, abril 26, 2007

Para um roxo dia de sol de fevereiro - Caio Fernando Abreu

Não é fevereiro, mas combina com abril...

Para um roxo dia de sol de fevereiro
por Caio Fernando Abreu
Para Jussara

Este vazio de amor todos os dias: a cabeça pesada ao meio-dia, a boca amarga, um cheiro de sono e solidão nos cabelos, uma xícara de café bem forte espantando os arcanos da madrugada, e muitos cigarros, as roupas, o espelho, os colares, as pulseiras. Procuro e não acho. Mas saio para a rua todo de roxo, a barriga de fora.O sol bate forte na cabeça. O sol bate forte e reflete na calçada e dissolve o corpo em gotas pegajosas escorrendo nojentas e brilhantes pelos braços e pelas pernas por baixo do roxo até cair sobre o asfalto formando pequenas poças que logo se evaporam subindo pelos raios do sol cor de cenoura de fevereiro para novamente descer do alto despertando o suor roxo adormecido no meu corpo.E na esquina riem. Eu não ligo, mas riem e falam baixinho entre si, homens dispostos na calçada com as camisas abertas entre as verduras da tenda da esquina, os homens de pelos aparecendo pelas aberturas da camisa cochicham entre si e riem. Mas eu piso firme e ergo a cabeça e dentro do meu roxo caminho só-rindo entre as verduras e os cochichos, e ninguém entende: mas silenciam e principiam a rir baixo, apenas para eles, e não têm coragem de dizer nada. Eu passo por seu silêncio irônico e perplexo, a minha bolsa oscila, é como se o sol coroasse minha cabeça e ninguém soubesse ao certo se rir ou calar, de espanto, porque nunca naquela rua passou alguém coroado por um sol roxo de fevereiro.Depois são os corredores e as escadas e o balcão claro do bar e os grupos de pessoas que não distingo umas das outras, mas vou sorrindo, sou um projétil orientado até certo ponto, depois dele, e é agora o depois dele vou furando o desconhecido, violentando o mistério, vou penetrando no incompreensível, e sorrio para o inesperado, o corpo ereto projetado, e alguém me faz uma saudação oriental na porta de entrada e eu sorrio ainda mais largo: é alguém semelhante a um cão são bernardo, falta apenas o barrilzinho de chocolate, desses abençoados que riem o tempo todo e o tempo todo cantam e dizem coisas e soltam notas musicais por entre os pelos espessos da barba e do cabelo grande.E entro na sala e sinto que os olhares se debruçam sobre mim e cumprimento alguns e outros e não penso nada: gozo a glória deste momento e sei que brilho mesmo sem saber para onde vou. E tombo sobre a mesa e tento arranjar no rosto um ar compungido, qualquer coisa modesta e bucólica, à beira do perdão, um olhar no horizonte nas janelas do arquivo, para que me amem, para que se condoam, para que não se ofendam com meu sol de hoje.Mas hoje. Hoje não. É impossível perdoar no meio destas máquinas histéricas e destas pessoas que tão pouco sabem de si destas calças desbotadas do feltro verde do jornal mural das vozes que passam misturando marchas de carnaval john lennon e carlos gardel é impossível sofrer entre os telefones que gritam e o suor que escorre e as laudas numeradas e as pilhas de jornais e livros e a porta que vezenquando abre libertando vanderléias comerciais e meninos de roupas coloridas e ar desvairado.E hoje não. Que não me doa hoje o existir dos outros, que não me doa hoje pensar nessa coisa puída de todos os dias, que não me comovam os olhos alheios e a infinita pobreza dos gestos com que cada um tenta salvar o outro deste barco furado. Que eu mergulhe no roxo deste vazio de amor de hoje e sempre e suporte o sol das cinco horas posteriores, e posteriores, e posteriores ainda.
CAIO FERNANDO ABREU escrito no dia 01º.02.1973

quinta-feira, março 29, 2007

Arrumando as malas

Cada peça dentro da mala. Cada qual, uma história.
A blusa com o poema da Cecilia Meireles e a outra com o poema do Maiakovski, relembram aquela fiel amiga de Brasília, que quantas vezes me transportou e me inspirou. Apresentava me aos pontos turísticos, à sua vida e quantas vezes até à minha própria.
Olhar cada sandália e resgatar os caminhos por onde pisaram - praças, ruas, gramas, porcelanatos e cerâmicas. Inúmeras casas, nas quais me sentia sempre a vontade.
As blusas ganhada da vizinha e melhor amiga. A blusa amarela de algodão, muito larga, que aquele especial amigo trouxe de Londres.
As variadas roupas compradas pela mãe. Mesmo com todas as dificuldades não se mediu esforços para que eu tivesse tudo que desejasse, o pijama quentinho, o chacecol bonito, a blusa de frio amarela e os vários vestidos que me lembrarão todos os sambas.

sábado, março 24, 2007

Alcoólicas - Hilda Hilst

Alcoólicas
de Hilda Hilst

É crua a vida. Alça de tripa e metal.
Nela despenco: pedra mórula ferida.
É crua e dura a vida. Como um naco de víbora.
Como-a no livor da língua
Tinta, lavo-te os antebraços, Vida, lavo-me
No estreito-pouco
Do meu corpo, lavo as vigas dos ossos, minha vida
Tua unha plúmbea, meu casaco rosso.
E perambulamos de coturno pela rua
Rubras, góticas, altas de corpo e copos.
A vida é crua. Faminta como o bico dos corvos.
E pode ser tão generosa e mítica: arroio, lágrima
Olho d'água, bebida. A Vida é líquida.
(Alcoólicas - I)

* * *

Também são cruas e duras as palavras e as caras
Antes de nos sentarmos à mesa, tu e eu, Vida
Diante do coruscante ouro da bebida. Aos poucos
Vão se fazendo remansos, lentilhas d'água, diamantes
Sobre os insultos do passado e do agora. Aos poucos
Somos duas senhoras, encharcadas de riso, rosadas
De um amora, um que entrevi no teu hálito, amigo
Quando me permitiste o paraíso. O sinistro das horas
Vai se fazendo tempo de conquista. Langor e sofrimento
Vão se fazendo olvido. Depois deitadas, a morte
É um rei que nos visita e nos cobre de mirra.
Sussurras: ah, a vida é líquida.
(Alcoólicas - II)

* * *

E bebendo, Vida, recusamos o sólido
O nodoso, a friez-armadilha
De algum rosto sóbrio, certa voz
Que se amplia, certo olhar que condena
O nosso olhar gasoso: então, bebendo?
E respondemos lassas lérias letícias
O lusco das lagartixas, o lustrino
Das quilhas, barcas, gaivotas, drenos
E afasta-se de nós o sólido de fechado cenho.
Rejubilam-se nossas coronárias. Rejubilo-me
Na noite navegada, e rio, rio, e remendo
Meu casaco rosso tecido de açucena.
Se dedutiva e líquida, a Vida é plena.
(Alcoólicas - IV)

* * *

Te amo, Vida, líquida esteira onde me deito
Romã baba alcaçuz, teu trançado rosado
Salpicado de negro, de doçuras e iras.
Te amo, Líquida, descendo escorrida
Pela víscera, e assim esquecendo
Fomes
País
O riso solto
A dentadura etérea
Bola
Miséria.
Bebendo, Vida, invento casa, comida
E um Mais que se agiganta, um Mais
Conquistando um fulcro potente na garganta
Um látego, uma chama, um canto. Amo-me.
Embriagada. Interdita. Ama-me. Sou menos
Quando não sou líquida.
(Alcoólicas - V)
(in Do Desejo - Campinas, SP: Pontes, 1992.)

quinta-feira, março 22, 2007

A Flor e a Náusea - Carlos Drummond de Andrade

Preso à minha classe e a algumas roupas,
Vou de branco pela rua cinzenta.
Melancolias, mercadorias espreitam-me.
Devo seguir até o enjôo? Posso, sem armas, revoltar-me'?

Olhos sujos no relógio da torre:
Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse.

Em vão me tento explicar, os muros são surdos.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase.

Vomitar esse tédio sobre a cidade.
Quarenta anos e nenhum problema resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam para casa.
Estão menos livres mas levam jornaise soletram o mundo, sabendo que o perdem.

Crimes da terra, como perdoá-los?
Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa.
Os ferozes padeiros do mal.
Os ferozes leiteiros do mal.

Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com ele me salvo
e dou a poucos uma esperança mínima.

Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.

Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.

Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.

domingo, março 11, 2007

Paciência

que o céu me abençoe
que os anjos assoprem em meu ouvido
que as tartarugas me ultrapassem
que durem para sempre os brigadeiros e doce de leite ninho do mundo
que eu nao me sinta nostálgica quando ouvir The Smiths
que Gabriel Garcia Marques esteja enganado quando diz que o futuro não é como sonhamos, e que por assim ser conhecemos a nostalgia.

e mesmo me faltando tudo issso
que eu pelo menos tenha paciência


*inspirando na raiva qeu a alguém me passava...

Sobre todos aqueles que continuam tentando, Deus, derrama teu Sol mais luminoso - Caio Fernando Abreu

Sobre todos aqueles que continuam tentando, Deus, derrama teu Sol mais luminoso.
Caio Fernando Abreu
O Sol entrou ontem em Libra. E porque tudo é ritual, porque fé, quando não se tem, se inventa, porque Libra é a regência máxima de Vênus, o afeto, porque Libra é o outro (quando se olha e se vê o outro, e de alguma forma tenta-se entrar em alguma espécie de harmonia com ele), e principalmente porque Deus, se é que existe, anda destraído demais, resolvi chamar a atenção dele para algumas coisas. Não que isso possa acordá-lo de seu imenso sono divino, enfastiado de humanos, mas para exercitar o ritual e a fé - e para pedir, mesmo em vão, porque pedir não só é bom, mas às vezes é o que se pode fazer quando tudo vai mal.Nesse zero grau de Libra, queria pedir a isso que chamamos de Deus um olho bom sobre o planeta terra, e especialmente sobre a cidade de São Paulo. Um olho quente sobre aquele mendigo gelado que acabei de ver sob a marquise do cine Majestic; um olho generoso para a noiva radiosa mais acima. Eu queria o olho bom de Deus derramado sobre as loiras oxigenadas, falsíssimas, o olho cúmplice de Deus sobre as jóias douradas, as cores vibrantes. O olho piedoso de Deus para esses casais que, aos fins de semana, comem pizza com fanta e guaraná pelos restaurantes, e mal se olham enquanto falam coisas como: "você acha que eu devia ter dado o telefone da Catarina à Eliete? – e outro grunhe em resposta.Deus, põe teu olho amoroso sobre todos que já tiveram um amor, e de alguma forma insana esperam a volta dele: que os telefones toquem, que as cartas finalmente cheguem. Derrama teu olho amável sobre as criancinhas demônias criadas em edifícios, brincando aos berros em playgrounds de cimento. Ilumina o cotidiano dos funcionários públicos ou daqueles que, como funcionários públicos, cruzam-se em corredores sem ao menos se verem – nesses lugares onde um outro ser humano vai-se tornando aos poucos tão humano quanto uma mesa.
Passeia teu olhar fatigado pela cidade suja, Deus, e pousa devagar tua mão na cabeça daquele que, na noite, liga para o CVV. Olha bem o rapaz que, absolutamente só, dez vezes repete Moon Over Bourbon Street, na voz de Sting, e chora. Coloca um spot bem brilhante no caminho das garotas performáticas que para pagar o aluguel dão duro como garçonetes pelos bares. Olha também pela multidão sob a marquise do Mappin, enquanto cai a chuva de granizo, pelo motorista de taxi que confessa não Ter mais esperança alguma. Cuida do pintor que queria pintar, mas gasta seu talento pelas redações, pelas agências publicitárias, e joga tua luz no caminho dos escritores que precisam vender barato seu texto- olha por todos aqueles que queria ser outra coisa qualquer a que não a que são, e viver outra vida se não a que vivem. Não esquece do rapaz viajando de ônibus com seus teclados para fazer show na Capital, deita teu perdão sobre os grupos de terapia e suas elaborações da vida, sobre as moças desempregadas em seus pequenos apartamentos na Bela Vista, sobre os homossexuais tontos de amor não dado, sobre as prostitutas seminuas, sobre os travestis da República do Líbano, sobre os porteiros de prédios comendo sua comida fria nas ruas dos Jardins. Sobre o descaramento, a sede e a humildade, sobre todos que de alguma forma não deram certo (porque, nesse esquema, é sujo dar certo), sobre todos que continuam tentando por razão nenhuma – sobre esse que sobrevivem a cada dia ao naufrágio de uma por uma das ilusões. Sobre as antas poderosas, ávidas de matar o sonho alheio - Não. Derrama sobre elas teu olhar mais impiedoso, Deus, e afia tua espada. Que no zero grau de Libra, a balança pese exata na medida do aço frio da espada da justiça. Mas para nós, que nos esforçamos tanto e sangramos todo dia sem desistir, envia teu Sol mais luminoso, esse zero grau de Libra. Sorri, abençoa nossa amorosa miséria atarantada.
Caio Fernando Abreu, n'O Estado de S. Paulo, 24/09/86.

domingo, março 04, 2007

Se eu pudesse te encontrar hoje...

Se eu pudesse te encontrar hoje chegaria de mansinho, insinuando uma surpresa. Falaria-te todas aquelas coisas corriqueiras que se diz a alguém em um dia como esse. Desejaria-lhe coisas impossíveis e inalcançáveis, não por achar que isso enalteceria o meu desejo, mas por acreditar que a raridade condiz com você de forma exata.
Se eu pudesse te encontrar hoje eu te levaria uma única rosa, amarela. Amarelo é minha cor preferida, e eu não me esqueço que um dia disse-me que amarelo é a cor da loucura, e nada mais propício. Levaria ainda um livro, um livro de poesia, talvez Hilda Hilst ou quem sabe Drummond, que é o seu preferido. Na primeira folha desse livro escreveria-te uma dedicatória simples, lírica e sincera.
Mas se eu pudesse te encontrar hoje ficaria em silêncio por alguns instantes ao teu lado, a fim de apenas sentir sua presença, tentando alcançar o ritmo de sua respiração. Insiparia o ar que nos rodeasse com ânsia de nele ver disperso seu perfume, o qual me elevaria a uma ilusão do encontro com seu sabor.
E se eu pudesse te encontrar hoje não permitira que mais ninguém te encontrasse, não me veja como uma pessoa egoísta, porém te envolveria com abraços e beijos, e só te soltaria quando assim me forçasse.
Mas como sempre há um mas, não pude te encontrar hoje.

sexta-feira, março 02, 2007

CONTARDO CALLIGARIS - "Pecados Íntimos"

CONTARDO CALLIGARIS
"Pecados Íntimos"

O filme, tocante e verdadeiro, é sobre como nosso desejo encalha e se solta"PECADOS ÍNTIMOS", de Todd Field, estreou no dia 9 de fevereiro. Parecia ser mais um filme sobre a vida nos subúrbios americanos de classe média, tipo "Beleza Americana" (vencedor do Oscar em 2000), e fiquei com preguiça. Sempre acho um pouco fácil satirizar uma maneira de viver, como se o jeito da gente fosse o certo: "Aponto o vazio na vida dos outros para me convencer de que a minha é autêntica e plena".Vários leitores me escreveram estranhando que não comentasse o filme. Graças a eles, assisti, enfim, a "Pecados Íntimos", que NÃO é um filme sobre a vida nos subúrbios americanos (a não ser que você considere que "Hamlet" é uma peça sobre a vida na corte da Dinamarca durante a Idade Média). "Pecados Íntimos" é um filme tocante e verdadeiro sobre os caminhos forçados de nosso desejo e sobre como ele encalha (quase sempre) e se solta (aos trancos). Quando ensinava "Cultural Studies" na New School, começava dizendo a meus estudantes que eles eram livres para tirar todas as notas A que quisessem, mas, para entender a subjetividade moderna, eles teriam que passar por três letras B: Brummel, Byron e Bovary. Não era só uma piada de professor: as três figuras em questão, afinal, falam todas de nossa impossibilidade de conseguir, na vida, a nota máxima. Um B já é de bom tamanho. Brummel (o primeiro dandy, no fim do século 18) lembra que a nobreza não é efeito do berço em que a gente nasce; ela é fruto da "elegância" (não tanto das maneiras e da roupa, mas do espírito). O hábito, na modernidade, faz o monge, e somos livres para escolhê-lo. Mas essa liberdade tem um custo: o desconforto de apenas parecer o que somos e, claro, a aflição de parecer o que não somos ou não queremos ser. O hábito faz e aprisiona o monge. Byron (o poeta romântico) lembra que, na vida moderna, o que importa é a intensidade e a variedade de experiências. A fome de viver e o anseio de aventuras levam alguns a lutar pela independência da Grécia, a pular de skate quando mal sabem andar ou a perder-se nas sarjetas do mundo. E nos levam a sonhar com o que não ousamos empreender. Emma Bovary (a heroína do romance de Flaubert) lembra que o amor é o grande operador moderno da mudança. Descobrimos que podíamos inventar nossa vida quando começamos a casar por amor (e não para preservar a casta, a família e o patrimônio). Portanto, esperamos do amor que ele nos transforme e nos leve para uma "outra" vida (e toda vida tem uma "outra" vida com a qual sonhar). Numa cena de "Pecados Íntimos", "Madame Bovary" é comentado por um grupo de mulheres. Elas descobrem (a contragosto) que são todas, de um jeito ou de outro, Emma Bovary: inconformadas com sua vida e desejosas de um amor que as salve. Mas "Pecados Íntimos" é mais que uma adaptação de "Madame Bovary": é um pequeno "tratado" da subjetividade moderna. Até porque, justamente, Emma Bovary sentia que ela era muito mais do que parecia pela "rotina" de sua vida. E seus sonhos de amor eram sonhos de experiência e aventura. Ou seja, os três "B" estão sempre juntos, dentro da gente. Além disso, é difícil sair do cinema sem se perguntar por qual mistério somos condescendentes com nossas impulsões (o pedófilo e a protagonista não são os únicos que não sabem resistir às tentações) e, ao mesmo tempo, inertes quando se trata de mudar de vida. O desejo só consegue se expressar por sobressaltos. É como se, contra o nosso desejo, tivéssemos erigido um dique inútil: a água irrompe, forte, pelas pequenas falhas, mas sua massa não se transforma em energia para inventar a vida. A incapacidade de mudar, aliás, é o grande tema do filme. Há a mãe do pedófilo, que espera que o filho se torne "normal", mas, olhe só, coleciona estatuetas de meninos. Há a mulher que não quer perder o marido, mas enfia o filho no meio da cama e vigia a vida do esposo como uma mãe. Há a mulher que morre de tédio e transa com o marido toda terça às 19h30, embora sonhe em conseguir o telefone de um bonitão. Há o homem que cansou de ser babá do filho, mas, quando se trata de estudar para o exame da Ordem, passa as noites à toa. O título original do filme é "Little Children" (criancinhas). Em matéria de desejo, somos todos criancinhas, incapazes de encontrar a coragem de fazer o que desejamos, mas sempre (e apenas) tentados por potes de geléia.

sexta-feira, fevereiro 23, 2007

Vitamina

Estive pensando, eu prefiro ser tratada mal pelas pessoas. Vou-me explicar. Não que desejo que as pessoas me tratem com desrespeito ou coisas do gênero, mas uma coisa é fato, eu não sei lidar com galanteios e gracejos. Isso exige muito de mim. Isso me faz sentir culpada.
Ontem a noite, minha mãe fez uma vitamina, uma atitude rara. Cheguei em casa um pouco tarde e já havia jantado. Logo que adentrei em casa ouço minha mãe gritar: "tem vitamina na geladeira". Ai ai ai, eu não queria mais comer.... estava cheia, mas ela tinha feito vitamina para mim. Estava, então, instaurado um dilema. De meia-noite às três da manhã fiquei me preocupando se tomaria, mesmo sem querer, ou não aquela vitamina. No fim não tomei. Contudo, milhares de coisas passaram em mim até chegar-me a essa decisão. E até o momento sinto uma certa culpa por não tê-la tomado.
É bem verdade: as boas atitudes das pessoas para comigo me irritam. Prefiro não ter essa responsabilidade. Por favor, me tratem com distanciamento. Esquivo-me de ter que ser legal. Eu prefiro ver o mal em mim ao ver o meu mal repercutindo no outro.

quarta-feira, fevereiro 14, 2007

Vai Passar - Caio Fernando Abreu

Vai Passar - Caio Fernando Abreu
Vai passar, tu sabes que vai passar. Talvez não amanhã, mas dentro de uma semana, um mês ou dois, quem sabe? O verão está ai, haverá sol quase todos os dias, e sempre resta essa coisa chamada "impulso vital". Pois esse impulso às vezes cruel, porque não permite que nenhuma dor insista por muito tempo, te empurrará quem sabe para o sol, para o mar, para uma nova estrada qualquer e, de repente, no meio de uma frase ou de um movimento te supreenderás pensando algo como "estou contente outra vez". Ou simplesmente "continuo", porque já não temos mais idade para, dramaticamente, usarmos palavras grandiloqüentes como "sempre" ou "nunca". Ninguém sabe como, mas aos poucos fomos aprendendo sobre a continuidade da vida, das pessoas e das coisas. Já não tentamos o suicidio nem cometemos gestos tresloucados. Alguns, sim - nós, não. Contidamente, continuamos. E substituimos expressões fatais como "não resistirei" por outras mais mansas, como "sei que vai passar". Esse o nosso jeito de continuar, o mais eficiente e também o mais cômodo, porque não implica em decisões, apenas em paciência.Claro que no começo não terás sono ou dormirás demais. Fumarás muito, também, e talvez até mesmo te permitas tomar alguns desses comprimidos para disfarçar a dor. Claro que no começo, pouco depois de acordar, olhando à tua volta a paisagem de todo dia, sentirás atravessada não sabes se na garganta ou no peito ou na mente - e não importa - essa coisa que chamarás com cuidado, de "uma ausência". E haverá momentos em que esse osso duro se transformará numa espécie de coroa de arame farpado sobre tua cabeça, em garras, ratoeira e tenazes no teu coração. Atravessarás o dia fazendo coisas como tirar a poeira de livros antigos e velhos discos, como se não houvesse nada mais importante a fazer. E caminharás devagar pela casa, molhando as plantas e abrindo janelas para que sopre esse vento que deve levar embora memórias e cansaços.Contarás nos dedos os dias que faltam para que termine o ano, não são muitos, pensarás com alívio. E morbidamente talvez enumeres todas as vezes que a loucura, a morte, a fome, a doença, a violência e o desespero roçaram teus ombros e os de teus amigos. Serão tantas que desistirás de contar. Então fingirás - aplicadamente, fingirás acreditar que no próximo ano tudo será diferente, que as coisas sempre se renovam. Embora saibas que há perdas realmente irreparáveis e que um braço amputado jamais se reconstituirá sozinho. Achando graça, pensarás com inveja na largatixa, regenerando sua própria cauda cortada. Mas no espelho cru, os teus olhos já não acham graça.Tão longe ficou o tempo, esse, e pensarás, no tempo, naquele, e sentirás uma vontade absurda de tomar atitudes como voltar para a casa de teus avós ou teus pais ou tomar um trem para um lugar desconhecido ou telefonar para um número qualquer (e contar, contar, contar) ou escrever uma carta tão desesperada que alguém se compadeça de ti e corra a te socorrer com chás e bolos, ajeitando as cobertas à tua volta e limpando o suor frio de tua testa.Já não é tempo de desesperos. Refreias quase seguro as vontades impossíveis. Depois repetes, muitas vezes, como quem masca, ruminas uma frase escrita faz algum tempo. Qualquer coisa assim:- ... mastiga a ameixa frouxa. Mastiga , mastiga, mastiga: inventa o gosto insípido na boca seca ...A personagem está sentada numa escrivaninha. A escrivaninha é muito velha, tem madeira lascada, riscada, manchada de muitas tintas. Falta a gaveta de cima. Pelo vão pode-se ver o que há no interior da segunda gaveta: uma garrafa de Pepsi-Cola vazia e um pedaço de sanduíche de queijo ou/e mortadela. Sobre o tampo, um maço de Hollywood pela metade e muito amassado, uma caixa de fósforos e um pires de cafezinho como cinzeiro. A personagem Lê um livro – de onde não consigo ler o título. A personagem usa tênis brancos (foram brancos), calças de brim azul, desbotado e sujo, um suéter amarelo de lã, esgarçado nos cotovelos. A personagem não olha em volta. Em volta, muitos moças & rapazes com pastas, falando alto (pode-se ouvir, nitidamente, a palavra “dialética”), supõe-se que sejam estudantes. Nas paredes vários cartazes. Num deles, pode-se ler claramente “Cultivar as Almas – ciclo de palestras filosóficas”. Em outro “Você na prévia”. E também: “Pela prática da Liberdade”. Por todos esse detalhes, se supõe que o cenário onde está sentada a personagem seja o diretório do centro acadêmico de alguma faculdade (mas de onde estou não consigo ver claramente). Há uma porta grande de vidro, semi aberta. Lá fora, às vezes chove, às vezes faz sol. Secas e molhadas, as pessoas que entram não param nem falam com a personagem. A personagem está vendendo alguma coisa. De onde estou não consigo ter certeza do que se trata. Mas parecem entradas, dessas para o teatro, cinema, música ou coisa assim. Ninguém pára. Todos falam entre si (pode-se ouvir, nitidamente, a expressão “contradição do sistema”), mas ninguém com a personagem. A personagem pára de ler e olha em volta para ver se está sendo observada. Lentamente. Depois introduz rápida o braço no vão da primeira gaveta (disfarçando com o livro) e, no fundo da segunda, apanha o resto do sanduíche (queijo? Mortadela?). Não vê que eu vejo. Então morde.

segunda-feira, fevereiro 12, 2007

Partir

Hunnnnfffff!!!!!! Isso é um suspiro. Mas o que é um suspiro? Um suspiro pode ser tanta coisa. Pode ser desânimo, medo. Pode ser sinal de missão cumprida ou comprida mesmo. Contudo, esse meu suspiro, meio tolhido, meio travado é a expressão de como a vida sempre está pronta para nos provar suas reviravoltas. Eis um suspiro à vida.

Há alguns dias atrás tudo que eu mais queria era ter certeza de estar fazendo a coisa certa. E eu parecia estar. Sentia-me segura da decisão. Mas tudo estava assim... ruim. Tudo estava insosso. Por isso a decisão parecia estar certa. Mas, agora vejo tudo se tornar bom. Um desabrochar de dias áureos. Ah exagero!!!!! Bom nada, porém melhor que antes e predestinadamente a ser melhor.

E agora torço para ter um dia-a-dia ruim. E até tenho de certa forma. Mas quero ter certeza de que devo ir. Entende? Sabe, a única coisa que gostaria de ter um dia era certeza. Certeza de que faço errado, ou de que faço certo. Certeza de que o mundo é assim mesmo e eu estou nele por pura certeza do destino.
Hunnnnffffffff!!!! Mais um. É, cheguei ao fim. Letargia.

domingo, fevereiro 04, 2007

Sobre a ausência

Sabe, eu já não me reconheço mais. E não estou sendo exagerada. É assim, simplismente assim, isso de não se reconhecer. Dizem que nos reconhecemos através dos outros. Mas, por onde andam os outros? Descobri-me só nesse último mês. Os problemas diários afastam uns dos outros. Não é? Você pode me dizer? Comigo é ao contrário. Quero tanto compartilhar meus problemas, mas esses, os outros, já têm problemas demais para ouvir e entender os meus. Mas eu tenho problema demais para ficar com eles só para mim. E não estou me esquivando de saber dos porblemas alheios, eu só queria que compartilhássemos, todos nós, como já foi um dia. Sinto saudades.
Saudades do amigo louco desconstrutivista e da amiga que parecia sempre tão serena, de boa família e bom namorado, boa feição, mas que carregava em si a infitude existecial. E tinha também aquela cuja a vida não facilitara a existência, mas que o ardor era pequeno demais diantes às responsabilidades, e nem assim, deixava de conservar aquele olhar estrelar e um sorriso terno. Como não dizer do menino recolhido em seus poemas e em suas mulheres, cantando a amizade e ensinando a simplicidade tal qual lhe havia ensinado Vinícius de Moraes. Há ainda o de alegria contagiante e expansividade comedida, não ocultando em seu humor o lirismo de viver uma vida pautada em trabalho e digna de um grande sonhador. E tinha aquela menina pueril que se transformava a cada estação, e que se apaixonava também a cada estação.
E havia o tempo. Havia um lugar. Um mesmo desejo. Uniram-se como que literáriamente. E separaram-se como que humanamente.

quarta-feira, janeiro 31, 2007

Para uma menina irritante

Para uma menina irritante
Porque você é uma menina irritante, e eu peço licença ao Vinícius de Moraes por adotar seu estilo de escrever ao me dirigir a você, e não só a ele, como também à "Menina como uma flor", e não só a ela, como a você, permita-me a pouca criatividade.
Você é irritantemente linda com esses cabelos da franja sob a testa que relembram as penugens de um passarinho, e que são iguaizinhos aos meus, que tanto odeio, mas que em você ficam fabulosamente encantadores.
Irritantemente chata, que quando começa uma brincadeira sem graça não termina nunca, a repetindo inúmeras e inúmeras vezes. Irritante também ao gaguejar, quando é propositalmente, é claro, me matando de ansiedade na espera da palavra que forçosamente você reluta em dizer.
Você é a pessoa mais irritante porque me faz querer mais da vida, coisa que nem eu mesma provoco em mim. Faz parecer que trabalhar é bom. Que ter rotina é a melhor coisa do mundo. Isso porque você fala do seu trabalho como alguém que saliva ao ver um prato de macarrão suculento ou uma pizza quatro queijos; porque você é disciplinada e também porque você faz ginástica, três vezes por semana.
É irritante por exigir que as pessoas olhem uma nos olhos das outras enquanto brindam. Que culpa tenho eu se só vejo sua boca? Porque dentro da sua boca tem aqueles dentões, brancos e certinhos, que precisam ir muito ao dentista, e lá eles são fotografados, para que você possa mostrá-los para todo mundo enquanto conta que tem bruxismo. E você tem as sobrancelhas grossas e olhos puxadinhos, que quando sorri desaparecem. E porque você é a única menina irritante que tem a risada mais gostosa que eu conheço e o humor mais incompreendido, como você mesma sabe.
E você também é uma menina irritante por me desconcertar quase que sempre. Como no dia da pizzaria em que eu pretendia te espiar às escondidas, e fui pega no flagra; e porque nesse dia você me fez passar a maior vergonha da minha vida. Mas eu adorei os abraços que ganhei.
E não deixa de ser irritante porque no dia em que machucaram meu olho você foi a única que se indignou, dizendo me defender, se estivesse presente no momento. Assim sendo, eu lhe agradeço a consideração.
Você é uma menina irritante porque está sempre a me propor convites que nunca cumpre; e porque quando sou eu quem os proponho você aceita, por três segundos, convencendo me ao contrário logo em seguida; e assim eu vou ficando sufocada na vontade de reviver um cinema com você. Porque você não deixa de ser uma dessas pessoas erradas, que conhecemos em um dia sem muito esperar, e acaba se tornando mais errada ainda, porque nos apaixonamos. Porque você é uma menina sobre a qual tenho vontade de falar com os amigos ou de lembrar sempre que toca alguma música do Vinícius ou do Chico, que fale de mulheres surpreendentemente, ou melhor, irritantemente apaixonáveis. E você é uma menina cheia de teorias furadas sobre frustrações e não frustrações amorosas, e mesmo cética, não deixa de ser irritante.
E é mais irritante mesmo por me fazer ter insônia, como hoje, em que te escrevo. Em que te escrevo sobre como me irrita sentir isso que sinto por você, que não é amor, por isso não se assuste, viu? mas é uma "possibilidade de amor". E você desperta em mim uma vontade de proximidade, uma vontade de te conhecer mais e mais, mas isso, porque você é uma menina irritante.

quarta-feira, janeiro 24, 2007

Apolo

Apolo e Jacinto, de Jean Broc




Apolo (em gr., Απόλλων) é um deus grego (Febo, na Roma), filho de Zeus e Leto, e irmão gémeo de Ártemis (deusa da caça). Em época mais tardia foi identificado com Hélios, deus do sol, pois era antes o deus da luz, e por arrastamento, a sua irmã foi identificada com Selene, deusa da lua. Mais tarde ainda, foi conhecido primordialmente como uma divindade solar. Na mitologia etrusca, foi conhecido como Aplu. Ao seu nome acrescenta-se, por vezes, epítetos relacionados com os locais onde era venerado, como o título de "Abeu" (de "Abas"), como era conhecido em Chipre.
Mas o seu culto estendia-se muito para além do culto solar. Apolo é também o deus da cura e das doenças, pai de Asclépio, ou Esculápio, venerado junto com este em grandes templos-hospitais, onde se curavam várias doenças, sobretudo através do sono. É ainda o deus da profecia. Inúmeros oráculos eram-lhe atribuídos, sendo o mais famoso e Oráculo de Delfos, o mais importante de toda a antiguidade que era visitado por inúmeros visitantes, alguns dos quais nem eram gregos. Como deus da música Apolo era representado tocando a sua lira, e é o líder das Musas.
Zeus, seu pai, presenteou-o com arco e flechas de ouro, além de uma lira do mesmo material (sua irmã Ártemis ganhou os mesmos presentes, porém de prata). Todos eram obra de Hefesto, o Deus do fogo e das forjas. - Algumas versões dizem que Apolo ganhou a lira como um presente de Hermes.
Outra faceta deste deus é a sua parte mais violenta, quando ele usa o arco, para disparar dardos letais que matam os homens com doenças ou mortes súbitas. Ainda assumindo este lado mais negro, Apolo é o deus das pragas de ratos e dos lobos, que atormentavam muitas vezes os gregos.
Finalmente, Apolo é o deus dos jovens rapazes, ajudando na transição para a idade adulta. Assim, ele é sempre representado como um jovem, frequentemente nu, para simbolizar a pureza e a perfeição, já que ele é também o deus destes dois atributos.
A árvore mais sagrada para Apolo é o loureiro. Crê-se que alguns sacerdotes mastigavam loureiro para dizerem as profecias, outros usavam ramos de loureiro para salpicar o templo na purificação, ou para purificar a água com o fogo. As coroas de louro eram muitas vezes oferecidas a alguém que tinha conseguido algo extraordinário, superando-se a si mesmo, na procura da arete, o ideal grego simbolizado por este jovem deus.
Apolo participa em diversos mitos, incluindo a famosa Guerra de Tróia, onde está do lado dos troianos, dizimando os aqueus com praga quando estes ofendem o seu sacerdote troiano, e acabando por matar Aquiles. A maioria dos mitos que dizem respeito a Apolo falam dos seus inúmeros amores, sendo os mais famosos Dafne, uma ninfa que foi transformada em loureiro (daí a sacralidade da árvore para Apolo), Jacinto, que se transformou na flor com o mesmo nome, e Ciparisso, o qual se transformou em Cipreste. Nestes mitos amorosos, Apolo nunca tem sorte, e existe um mito que conta que isto se deve ao facto de ele se gabar de ser o melhor arqueiro entre os deuses, o que faz com que Eros, deus do amor, sinta inveja.
Ao deus Apolo é tradicionalmente consagrado o dia 22 de Janeiro.

terça-feira, janeiro 23, 2007

Dionísio

Dyonisios Louvre


Dioniso ou Dionísio é o deus grego equivalente a Baco, no panteão romano, deus das festas, do vinho e do lazer. Filho de Zeus e da princesa Semele, é o único deus filho de uma mortal.
Ocorre que Hera, ciumenta de mais uma traição de Zeus, instigou Semele a pedir ao seu amante (caso ele fosse o verdadeiro Zeus) que viesse ter com ela vestido em todo seu esplendor, tal como anda no Olimpo. Semele então pediu que Zeus atendesse a um pedido seu, sem saber qual seria. Ele concordou e imediatamente se arrependeu.
Uma vez concedido o pedido teria que cumpri-lo. Ele então voltou ao Olimpo e colocou suas vestes maravilhosas, já sabendo de antemão o que ocorreria. De fato, o corpo mortal de Semele não foi capaz de suportar todo aquele esplendor, e ela virou cinzas. Assim, Dioniso passou parte de sua gestação na coxa de seu pai. Quando completou o tempo da gestação, Zeus o entregou em segredo a Ino (sua tia) que passou a cuidar da criança com ajuda das híades, das horas e das ninfas.
Depois de adulto, ainda a raiva de Hera torna Dioniso louco e ele fica vagando por várias partes da Terra. Quando passa pela Frígia, a deusa Réia o cura e o instrui em seus ritos religiosos. Sileno ensina a ele a cultura da vinha, a poda dos galhos e o fabrico do vinho.
Curado, ele atravessa a Ásia ensinando a cultura da uva. Ele foi o primeiro a plantar e cultivar as parreiras, assim o povo passou a cultuá-lo como deus do vinho.
Dioniso puniu quem quis se opor a ele (como Penteu) e triunfou sobre seus inimigos além de se salvar dos perigos que Hera estava sempre pondo em seu caminho.
Nas lendas romanas, temos Dioniso como Baco, que se transforma em leão para lutar e devorar os gigantes que escalavam o céu e depois foi considerado por Júpiter como o mais poderoso dos deuses.
É geralmente representado so a forma de um jovem imberbe, risonho e festivo, de longa cabeleira loira e flutuante, tendo, em uma das mãos, um cacho de uvas ou uma taça, e, na outra, um tirso (um dardo) enfeitado de folhagens e fitas. Tem o corpo coberto com um manto de pele de leão ou de leopardo, traz na cabeça uma coroa de pâmpanos, e dirige um carro tirado por leões.
Também pode ser representado sentado sobre um tonel, com uma taça na mão, a transbordar de vinho generoso, onde ele absorve a embriaguez que o torna cambaleante. Eram-lhe consagrados: a pega, o bode a lebre.
Às mulheres que o seguiam como loucas, bêbadas e desvairadas se dava o nome de bacantes.
É considerado também o deus protector do teatro. Em sua honra faziam-se ditirambos na Grécia Antiga e festas dionisíacas.

Fonte *Wikipedia

quarta-feira, janeiro 17, 2007

Pequenas Epifanias 2 - Caio Fernando Abreu

Carta anônima

Para se ler ao som de Melodia Sentimental, de Villa-Lobos cantada por Olívia Byington
Tenho trabalhado tanto, mas penso sempre em você. Mais de tardezinha que de manhã, mais naqueles dias que parecem poeira assentada aos poucos e com mais força enquanto a noite avança. Não são pensamentos escuros, embora noturnos. Tão transparentes que até parecem de vidro, vidro tão fino que, quando penso mais forte, parece que vai ficar assim clack! e quebrar em cacos, o pensamento que penso de você. Se não dormisse cedo nem estivesse quase sempre cansado, acho que esses pensamentos quase doeriam e fariam clack! de madrugada e eu me veria catando cacos de vidro entre os lençóis. Brilham, na palma da minha mão. Num deles, tem uma borboleta de asa rasgada. Noutro, um barco confundido com a linha do horizonte, onde também tem uma ilha. Não, não: acho que a ilha mora num caquinho só dela. Noutro, um punhal de jade. Coisas assim, algumas ferem, mesmo essas que são bonitas. Parecem filme, livro, quadro. Não doem porque não ameaçam. Nada que eu penso de você ameaça. Durmo cedo, nunca quebra.
Daí penso coisas bobas quando, sentado na janela do ônibus, depois de trabalhar o dia inteiro, encosto a cabeça na vidraça, deixo a paisagem correr, e penso demais em você. Quando não encontro lugar para sentar, o que é mais freqüente, e me deixava irritado, descobri um jeito engraçado de, mesmo assim, continuar pensando em você. Me seguro naquela barra de ferro, olho através das janelas que, nessa posição, só deixam ver metade do corpo das pessoas pelas calçadas, e procuro nos pés daquelas aqueles que poderiam ser os seus. (A teus pés, lembro.). E fico tão embalado que chego a me curvar, certo que são mesmo os seus pés parados em alguma parada, alguma esquina. Nunca vejo você - seria, seriam?
Boas e bobas, são as coisas todas que penso quando penso em você. Assim: de repente ao dobrar uma esquina dou de cara com você que me prega um susto de mentirinha como aqueles que as crianças pregam umas nas outras. Finjo que me assusto, você me abraça e vamos tomar um sorvete, suco de abacaxi com hortelã ou comer salada de frutas em qualquer lugar. Assim: estou pensando em você e o telefone toca e corta o meu pensamento e do outro lado do fio você me diz: estou pensando tanto em você. Digo eu também, mas não sei o que falamos em seguida porque ficamos meio encabulados, a gente tem muito pudor de parecer ridículos melosos piegas bregas românticos pueris banais. Mas no que eu penso, penso também que somos meio tudo isso, não tem jeito, é tudo que vamos dizendo, quando falamos no meu pensamento, é frágil como a voz de Olívia Byington cantando Villa-Lobos, mais perto de Mozart que de Wagner, mais Chagal que Van Gogh, mais Jarmush que Win Wenders, mais Cecília Meireles que Nelson Rodrigues.
Tenho trabalhado tanto, por isso mesmo talvez ando pensando assim em você. Brotam espaços azuis quando penso. No meu pensamento, você nunca me critica por eu ser um pouco tolo, meio melodramático, e penso então tule nuvem castelo seda perfume brisa turquesa vime. E deito a cabeça no seu colo ou você deita a cabeça no meu, tanto faz, e ficamos tanto tempo assim que a terra treme e vulcões explodem e pestes se alastram e nós nem percebemos, no umbigo do universo. Você toca minha mão, eu toco na sua.
Demora tanto que só depois de passarem três mil dias consigo olhar bem dentro dos seus olhos e é então feito mergulhar numas águas verdes tão cristalinas que têm algas na superfície ressaltadas contra a areia branca do fundo. Aqualouco, encontro pérolas. Sei que é meio idiota, mas gosto de pensar desse jeito, e se estou em pé no ônibus solto um pouco as mãos daquela barra de ferro para meu corpo balançar como se estivesse a bordo de um navio ou de você. Fecho os olhos, faz tanto bem, você não sabe. Suspiro tanto quando penso em você, chorar só choro às vezes, e é tão freqüente. Caminho mais devagar, certo que na próxima esquina, quem sabe. Não tenho tido muito tempo ultimamente, mas penso tanto em você que na hora de dormir vezemquando até sorrio e fico passando a ponta do meu dedo no lóbulo da sua orelha e repito repito em voz baixa te amo tanto dorme com os anjos. Mas depois sou eu quem dorme e sonha, sonho com os anjos. Nuvens, espaços azuis, pérolas no fundo do mar. Clack! como se fosse verdade, um beijo.
Caio Fernando AbreuO Estado de S. Paulo, 16/03/88
Pequenas epifanias

Pequenas Epifanias - Caio Fernando Abreu

Pequenas Epifanias

Dois ou três almoços, uns silêncios.
Fragmentos disso que chamamos de “minha vida’.
Há alguns dias, Deus – ou isso que chamamos assim, tão descuidadamente, de Deus -, enviou-me um certo presente ambíguo: uma possibilidade de amor. Ou disso que chamamos, também com descuido e alguma pressa, de amor. E você sabe a que me refiro.Antes que pudesse me assustar e, depois do susto, hesitar entre ir ou não ir, querer ou não querer – eu já estava lá dentro. E estar dentro daquilo era bom. Não me entenda bem – não aconteceu qualquer intimidade dessas que você certamente imagina. Na verdade, não aconteceu quase nada. Dois ou três almoços, uns silêncios. Fragmentos disso que chamamos, com aquele mesmo descuido, de “minha vida”. Outros fragmentos, daquela “outra vida”. De repente cruzadas ali, por puro mistério, sobre as toalhas brancas e os copos de vinho ou água, entre casquinhas de pão e cinzeiros cheios que os garçons rapidamente esvaziavam para que nos sentíssemos limpos. E nos sentíamos.Por trás do que acontecia, eu redescobria magias sem susto algum. E de repente me sentia protegido, você sabe como: a vida toda, esses pedacinhos desconexos, se armavam de outro jeito, fazendo sentido. Nada de mau me aconteceria, tinha certeza, enquanto estivesse dentro do campo magnético daquela outra pessoa. Os olhos da outra pessoa me olhavam e me reconheciam como outra pessoa, e suavemente faziam perguntas, investigavam terrenos: ah você não come açúcar, ah você não bebe uísque, ah você é do signo de Libra. Traçando esboços, os dois. Tateando traços difusos, vagas promessas.
Nunca mais sair do centro daquele espaço para as duras ruas anônimas. Nunca mais sair daquele colo quente que é ter uma face para outra pessoa que também tem uma face para você, no meio da tralha desimportante e sem rosto de cada dia atravancando o coração. Mas no quarto, quinto dia, um trecho obsessivo do conto de Clarice Lispector – Tentação- na cabeça estonteada de encanto: “Mas ambos estavam comprometidos. Ele, com sua natureza aprisionada. Ela, com sua infância impossível”. Cito de memória, não sei se correto. Fala no encontro de uma menina ruiva, sentada num degrau às três da tarde, com um cão basset também ruivo, que passa acorrentado. Ele pára. Os dois se olham. Cintilam, prometidos. A dona o puxa. Ele se vai. E nada acontece.
De mais a mais, eu não queria. Seria preciso forjar climas, insinuar convites, servir vinhos, acender velas, fazer caras. Para talvez ouvir não. A não ser que soprasse tanto vento que velejasse por si. Não velejou. Além disso, sem perceber, eu estava dentro da aprendizagem solitária do não-pedir. Só compreendi dias depois, quando um amigo me falou – descuidado, também – em pequenas epifanias. Miudinhas, quase pífias revelações de Deus feito jóias encravadas no dia-a-dia.Era isso – aquela outra vida, inesperadamente misturada à minha, olhando a minha opaca vida com os mesmos olhos atentos com que eu a olhava: uma pequena epifania. Em seguida vieram o tempo, a distância, a poeira soprando. Mas eu trouxe de lá a memória de qualquer coisa macia que tem me alimentado nestes dias seguintes de ausência e fome. Sobretudo à noite, aos domingos. Recuperei um jeito de fumar olhando para trás das janelas, vendo o que ninguém veria.
Atrás das janelas, retomo esse momento de mel e sangue que Deus colocou tão rápido, e com tanta delicadeza, frente aos meus olhos há tanto tempo incapazes de ver: uma possibilidade de amor. Curvo a cabeça, agradecido. E se estendo a mão, no meio da poeira de dentro de mim, posso tocar também em outra coisa. Essa pequena epifania. Com corpo e face. Que reponho devagar, traço a traço, quando estou só e tenho medo. Sorrio, então. E quase paro de sentir fome.
O Estado de S. Paulo, 22/04/86.Caio Fernando Abreu

sexta-feira, janeiro 12, 2007

O Amor não tira férias

Ficha Técnica

Título Original: The Holiday Gênero: Comédia Romântica
Tempo de Duração: 138 minutos
Ano de Lançamento (EUA): 2006
Estúdio: Columbia Pictures Corporation / Universal Pictures / Waverly Films / Relativity Media Distribuição: Sony Pictures Entertainment / Columbia Pictures / Universal Studios Inc. / UIP Direção: Nancy Meyers Roteiro: Nancy Meyers
Produção: Bruce A. Block e Nancy Meyers
Música: Hans Zimmer Fotografia: Dean Cundey Desenho de Produção: Jon Hutman Direção de Arte: Dan Webster Figurino: Marlene Stewart Edição: Joe Hutshing
Efeitos Especiais: Snow Business International / Furious FX

Sinopse
Iris Simpkins (Kate Winslet) escreve uma coluna sobre casamento bastante conhecida no Daily Telegraph, de Londres. Ela está apaixonada por Jasper (Rufus Sewell), mas logo descobre que ele está prestes a se casar com outra. Bem longe dali, em Los Angeles, está Amanda Woods (Cameron Diaz), dona de uma próspera agência de publicidade especializada na produção de trailers de filmes. Após descobrir que seu namorado Ethan (Edward Burns) não tem sido fiel, Amanda encontra na internet um site especializado em intercâmbio de casas. Ela e Iris entram em contato e combinam a troca de suas casas, com Iris indo para a luxuosa casa de Amanda e esta indo para a cabana no interior da Inglaterra de Iris. Logo a mudança trará reflexos na vida amorosa de ambas, com Iris conhecendo Miles (Jack Black), um compositor de cinema que trabalha com Ethan, e Amanda se envolvendo com Graham (Jude Law), irmão de Iris.
Impressões:
O filme teve todo um interesse especial para mim. Identifiquei-me muito com Isis... e a minha catarse foi surpreendente. É interessante como, em alguns momentos, nos encontramos tão iludidos diante de um relacionamento ou sentimento que não nos atentamos para as verdadeiras nuances do que aquilo de fato significa.
Talvez seja pelo medo de ficar só ou também por se prender ao que já foi um dia. Mas a questão é que quando acaba é porque já terminou, e não há muito o que fazer, apenas aceitar e tentar transformar o depois no mais confortável possível. Primeiro, é inviável uma amizade, pelo menos não de início. Não dá para manter uma proximidade, porque isso fará mal, e se enganar de que não fará só torna as coisas piores.
Existem sim pessoas levianas e egoístas no mundo que estão disposta a te prender em suas redes de inconstância e confusão. Estarás disposto a isso?
Artur diz a algo muito interessante a Isis quando diz a ela que ela deve ser a protagonista da sua vida e não a melhor amiga. Em outras palavras, temos que tomar as rédeas de nossas vidas e não buscar subterfúgios que nos confortem momentâneamente, fazendo com que soframos a doses homeopáticas. Cortar o mal pela raiz e não se deixar levar por falsas esperanças. Pois "mesmo você sabendo que ama a pessoa errada, tem esperança de estar errado, então qualquer atitude positiva que ela fizer vai fazer você esquecer o quanto ruim essa pessoa é para você... "
Isso eu acho que aprendi.
Outra parte interessante é a que explica os próximos passos de um relacionamento desacreditado. É fato que a ansiedade humana faz com que procuramos formas e mais formas de aliviar a dor. Então saímos para beber chardoney (no meu caso cerveja), choramos, beijamos quem não queríamos. Na verdade, vira um monte de acontecimentos que você não entende o porque deles. Mas, você entende que há, nesses momentos pessoas que te dão a maior força e que há também a chance de conhecer novas pessoas que poderão aliviar esse período, até que apareça a pessoa certa.
Estou tranquila disso.

quarta-feira, janeiro 10, 2007

Trechos

Mas já que se há de escrever, que ao menos não se esmaguem com palavras as entrelinhas.

Clarice Lispector


"Ri sozinha quase o tempo todo, uma moça magra querendo controlar a própria loucura, discretamente infeliz."
(Adaptado de 'O dia em que júpiter encontrou saturno' de Caio Fernando Abreu)

domingo, janeiro 07, 2007

Lista 2007

Para 2007 espero:
  • Engordar 5 kilos (isso me lembrou Briget Jones, ao inverso é claro)
  • "Endurecer sem perder a ternura"
  • Beber menos (isso também me lembrou Briget)
  • Amar livremente (?)
  • Comprar uma máquina digital
  • Comprar uma bike
  • Praticar esportes - essa é uma meta que se repete a cada ano...
  • Dar continuidade ao meu livro
  • Não ser preguiçosa
  • Fazer uma guinada profissional, em outras palavras, TRABALHAR
  • Ser mais familiar
  • Estudar e ler mais
  • Ter fé em mim
  • Praticar meus hobbies
  • Aprender fazer drinks
  • Aprender culinária e conhecer vinhos
  • Ser equilibrada, menos exagerada e menos dramática
  • Saber me cuidar melhor, sem perder a mágica da vida e sem me deixar levar pelas frustações
  • Dar o melhor de mim mesmo que me seja suscitado o pior
  • Mudar-me quando necessário, e para melhor, nunca agir com repúdio a vida, mesmo que esta tenha sido cruel demais
  • Involver-me com artes
  • Procurar fazer mais programas ao ar livre
  • Fazer pelo menos um amigo verdadeiro (isso foi bem coisa de livro tipo "como fazer amigo e influenciar pessoas")
  • Acampar
  • Viajar
  • Ir a uma trance
  • Conhecer pelo menos um lugar que eu nunca tenha ido
  • Cuidar melhor da minha avó
  • Continuar rindo de mim mesma
  • Tentar e me empenhar em ir morar sozinha
  • Cantar
  • Ser BEM MAIS decidida
  • E divertir sempre e sempre mais...........

FIM

A lucidez perigosa - Clarice Lispector


A lucidez perigosa - Clarice Lispector



Estou sentindo uma clareza tão grande

que me anula como pessoa atual e comum:

é uma lucidez vazia, como explicar?

assim como um cálculo matemático perfeito

do qual, no entanto, não se precise.



Estou por assim dizer vendo claramente o vazio.

E nem entendo aquilo que entendo:

pois estou infinitamente maior que eu mesma,

e não me alcanço.

Além do que: que faço dessa lucidez?

Sei também que esta minha lucidez

pode-se tornar o inferno humano - já me aconteceu antes.



Pois sei que

- em termos de nossa diária

e permanente acomodação resignada à irrealidade

- essa clareza de realidade é um risco.

Apagai, pois, minha flama, Deus,

porque ela não me serve para viver os dias.

Ajudai-me a de novo consistir dos modos possíveis.

Eu consisto,

eu consisto,

amém.