sexta-feira, maio 11, 2007

Pomelo


Todas as estórias de Pomelo são surpreendentes. Um livro de criança para adultos... ou "pseudo-adultos"..
Pomelo é um elefante deselegante e desajeitado.. sua tromba cresceu demais...
Ele vive debaixo de sua flor Dente-de-Leão.
Identifico-me muito com esse elefantinho... temos medos parecidos...e, alegrias também.
Temos medo de que a chuva apague as cores, ou que de repente tudo vire-de-cabeça-para-baixo..ou pior, que acordamos um belo dia e não entendemos o que as pessoas estão falando, nem mesmo o nosso melhor amigo, no caso de Pomelo, a Gigi, um caramujo.
Mas de uma coisa discordo de Pomelo, as borboletas são sim confiávies.
** Um livro de Ramona Badescu e Benjamin Chaud

terça-feira, maio 08, 2007

domingo, maio 06, 2007

A arte de ser feliz - Cecília Meireles

Um dia como um dia. Mas sempre há um amigo a nos surpreender com textos as nos confortar. Obrigada Maressa

A arte de ser feliz - Cecília Meireles

Houve um tempo em que minha janela se abria sobre uma cidade que parecia ser feita de giz. Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco. Era uma época de estiagem, de terra esfarelada,e o jardim parecia morto. Mas todas as manhãs vinha um pobre com um balde, e, em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas. Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse. E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros e meu coração ficava completamente feliz. Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor. Outras vezes encontro nuvens espessas.Avisto crianças que vão para a escola. Pardais que pulam pelo muro. Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais. Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar. Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega. Ás vezes, um galo canta. Às vezes, um avião passa. Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino.E eu me sinto completamente feliz. Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem diante das minhas janelas, e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.

sábado, maio 05, 2007

Cara Laísa

Palo Alto, 04 de maio de 2007.
Cara Laísa,

Hoje, especialmente hoje, há uma distância maldita dentro de mim. Meu coração pretificou-se no frio californiano. A saudade não é uma dor desesperada; é, com destreza, um lamento. Uma perda decidida. A natureza que por si só é a representação da beleza continua assim. Não posso ignorar isso. Mas, a condição humana não me envergonha, como deveria, ou melhor, como se esperaria, porém me atira aos limites. Não! Estou longe de chegar ao cume, no entanto, pressinto um ar blasfêmico. Entendes?
O mundo, como diria Drummond, vasto mundo. Há rimas no mundo, Laísa? Há ritmo? Há poesia? Há, Afirmo-te, como quem classifica cada pedaço de uma vaca morta. Há poesia em tudo quando se tem poesia nos olhos. Nos olhos e não no coração. A do coração lapida ou empalidece a dos olhos. Todavia, a dos olhos pode encegar a do coração, ou no mínimo, se arriscar por caminhos tolos. Os olhos se perdem em ser perder.
Não saberás quando for tarde. Será assim: acordas e lá está o mundo, ora a te sorrir com comparações mesquinhas, ora a te arregaçar com beijos francos. No entanto, sempre há isso que se chamam de Eu, um Eu entre tudo. Um Eu ansioso. Isso de haver um Eu é o que estraga tudo. O mundo seria apenas Um mundo, se não houvesse o Eu. O plano era: eu e o mundo. O plano muda. O mundo e eu. Parece óbvio a descoberta da própria medíocridade, mas vou além disso. Além da consciência dessa pequeneza, acresça a fragilidade de tudo que possa caber dentro de paradoxos, quase sempre atenuados.

O pior se dá em ecos. E lá se vão sua língua, as borboletas e as cores.
Sigo, porque já me esqueci como se volta.

Carinho zeloso,
Marina Segatti