quarta-feira, janeiro 31, 2007

Para uma menina irritante

Para uma menina irritante
Porque você é uma menina irritante, e eu peço licença ao Vinícius de Moraes por adotar seu estilo de escrever ao me dirigir a você, e não só a ele, como também à "Menina como uma flor", e não só a ela, como a você, permita-me a pouca criatividade.
Você é irritantemente linda com esses cabelos da franja sob a testa que relembram as penugens de um passarinho, e que são iguaizinhos aos meus, que tanto odeio, mas que em você ficam fabulosamente encantadores.
Irritantemente chata, que quando começa uma brincadeira sem graça não termina nunca, a repetindo inúmeras e inúmeras vezes. Irritante também ao gaguejar, quando é propositalmente, é claro, me matando de ansiedade na espera da palavra que forçosamente você reluta em dizer.
Você é a pessoa mais irritante porque me faz querer mais da vida, coisa que nem eu mesma provoco em mim. Faz parecer que trabalhar é bom. Que ter rotina é a melhor coisa do mundo. Isso porque você fala do seu trabalho como alguém que saliva ao ver um prato de macarrão suculento ou uma pizza quatro queijos; porque você é disciplinada e também porque você faz ginástica, três vezes por semana.
É irritante por exigir que as pessoas olhem uma nos olhos das outras enquanto brindam. Que culpa tenho eu se só vejo sua boca? Porque dentro da sua boca tem aqueles dentões, brancos e certinhos, que precisam ir muito ao dentista, e lá eles são fotografados, para que você possa mostrá-los para todo mundo enquanto conta que tem bruxismo. E você tem as sobrancelhas grossas e olhos puxadinhos, que quando sorri desaparecem. E porque você é a única menina irritante que tem a risada mais gostosa que eu conheço e o humor mais incompreendido, como você mesma sabe.
E você também é uma menina irritante por me desconcertar quase que sempre. Como no dia da pizzaria em que eu pretendia te espiar às escondidas, e fui pega no flagra; e porque nesse dia você me fez passar a maior vergonha da minha vida. Mas eu adorei os abraços que ganhei.
E não deixa de ser irritante porque no dia em que machucaram meu olho você foi a única que se indignou, dizendo me defender, se estivesse presente no momento. Assim sendo, eu lhe agradeço a consideração.
Você é uma menina irritante porque está sempre a me propor convites que nunca cumpre; e porque quando sou eu quem os proponho você aceita, por três segundos, convencendo me ao contrário logo em seguida; e assim eu vou ficando sufocada na vontade de reviver um cinema com você. Porque você não deixa de ser uma dessas pessoas erradas, que conhecemos em um dia sem muito esperar, e acaba se tornando mais errada ainda, porque nos apaixonamos. Porque você é uma menina sobre a qual tenho vontade de falar com os amigos ou de lembrar sempre que toca alguma música do Vinícius ou do Chico, que fale de mulheres surpreendentemente, ou melhor, irritantemente apaixonáveis. E você é uma menina cheia de teorias furadas sobre frustrações e não frustrações amorosas, e mesmo cética, não deixa de ser irritante.
E é mais irritante mesmo por me fazer ter insônia, como hoje, em que te escrevo. Em que te escrevo sobre como me irrita sentir isso que sinto por você, que não é amor, por isso não se assuste, viu? mas é uma "possibilidade de amor". E você desperta em mim uma vontade de proximidade, uma vontade de te conhecer mais e mais, mas isso, porque você é uma menina irritante.

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