quinta-feira, março 10, 2005

Por aí devagando!!!

"Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo" (Clarice Lispector)

Um conto...

No ônibus...

Era tarde. O dia já passava monótono como sempre, intenso e atordoado como houvera de ser...
Lá estava ela sozinha e desolada a esperar..eis que nunca deixou de ser assim..No ponto de ônibus, sem grandes expectativas e nem meras frustações...Parada com sua própria vida...

Enfim, dobra a esquina o desejado transporte. Ela embarca, comum, como os demais...nada notável, nada perceptível..apenas uma senhora....
Não havia lugares, e que mal havia nisso, pois houve algum dia em que ela pode se sentar?..não!!!
Segurou firme em um ferro...que ao lado estava sentada um senhora...A senhora trazia consigo algumas sacolas que se debruçavam para além de seu espaço. Ela já estava atordoada de tanto encostar naquela sacola, mas não havia outro lugar. A senhora olhava lhe com um ar de que se estava assim tão incomodada o azar não era dela...e sim do incomodado...Franziam a testa...Olhavam-se e disfarçavam...Fingiam.
E aquele encostar parecia, então, uma intensa provocação..um duelo. Quem venceria? Ela encostava, a senhora forçava...E assim ficaram horas...
Era chegada a hora de descer.
O ônibus parou. As pessoas começaram a descer...e neste momento, as duas, seguiram em direção a porta e se despediram com um breve e sarcástico sorriso.

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